Entrada Livre

Máquina de luz anacrónica que apreende realidades, o cinema parece estar a desfazer-se diante do olhar contemporâneo. Nesta presente mostra entre o real e a imagem, integrante da secção CINENOVA EXPANDIDO, o cinema, moribundo, apoia-se nas emulsões da película cinematográfica e de alguns pixels para se reafirmar enquanto potência de vida. Expandimos a sensatez narrativa da sala escura para aterrar noutras superfícies que desafiam a maneira com que consumimos e construímos imagens.

Nesta exposição atravessamos espaços e tempos que acabam por deformar uma maneira tradicional de narrar. A forma do cinema tradicional aqui é sempre deslocada e ressignificada, seja em histórias assombradas pela luz (“Capilla del Diablo”), fotogramas incendiados pela auto-imagem (“Contrafogo”), restaurações especulativas (“Rest/oration”) ou pontos de fuga para uma realidade ecológica esgotada (“Land/Scape”).

Por vezes os corpos são decompostos pelo fotograma (“Caer”) ou refeitos por uma ficção profeticamente libertadora (“O Sonho de Loïe Fuller”). Diferentes maneiras de inscrever na tela os corpos e tudo o que lhe é exterior surgem pela obsessivo trabalho simbólico da palavra, feita imagem (“Então Gravei”) ou quando questionam o próprio papel da câmera/humano como agente cinematográfico (“Migrating Film”). Através de uma linha imaginária tortuosa, a imagem desafia o real constantemente, numa tentativa, sempre falhada ou demasiado imperfeita, de o sobrepor, descrever ou conter.

Num festival de cinema, é redundante assumirmos que somos cinematograficamente dependentes da imagem. Entretanto, quanto mais tentamos aprisioná-la, mais livre ela pode ser, uma vez que nela traz contido, de força sempre tensionada e irruptiva, uma parcela de real.

Artistas:

Ana Bravo Pérez

David Leal

Gonssalo

Carolina Vieira

Hilda de Paulo

María Rojas Arias

Michal Krawczyk, Giulia Lepori, Dodolo & Giorgiana

Nicolás de Bórtoli